quarta-feira, 6 de abril de 2011

1970-2010 - 40 Anos da Psicologia Arquetípica de James Hillman: Destinos, Desafios e Desatinos.


1970-2010 - 40 Anos da Psicologia Arquetípica de James Hillman: Destinos, Desafios e Desatinos.



Em 1970, James Hillman, no posfácio escrito para o editorial da Revista Spring, afirma que "as expressões: junguiana, analítica e complexa nunca foram escolhas felizes nem adequadas à Psicologia que tentavam designar". Impelido pela ousadia Puer que o caracteriza, Hillman inova e introduz uma nova denominação que desdobrará seus efeitos tanto na teoria quanto na prática e mesmo neste estranho lugar chamado vida. Seu nome? Psicologia Arquetípica.

Ao escrever "Por que Psicologia Arquetípica?", Hillman inaugura um segundo momento dentro do campo junguiano, empurrando o pensamento para além do nível que Jung havia ensinado.

Para alguns autores como Wolfgang Giegerich e David Tacey, este momento foi uma verdadeira ruptura com o estado estéril no qual a psicologia junguiana se encontrava. A Psicologia Arquetípica trouxe ar fresco e renovação para um terreno que havia se tornado excessivamente previsível, invariável e rotineiro.

Muitos “junguianos” repetiam as idéias do suíço sem prezar pela Imaginatio ou por Logos. Arquétipos substanciais e congelados explicavam as características da pessoa – que podia então descobrir nos deuses suas maneiras de viver. Hillman e a psicologia arquetípica devolvem essas grandezas aos seus lugares, ao modo daquele Jung diletante, agressivamente criativo: da substância à qualidade da experiência, do arquétipo ao arquetípico, do pessoal ao impessoal. O que é divinamente humano para além do homem e do que pretensamente chamamos de “ego”. Em maior consonância com a segunda metade do século XX – abrindo o diálogo com a Fenomenologia, por exemplo – esta psicologia coloca no centro o olhar daquele que observa e se relaciona, deixando de lado os universais atemporalmente presentes, idéias fundamentais para certos pensadores que viveram o clima intelectual do século XIX.

Alguns anos depois, esta pedra fundamental, lapidada com apreço e esmero, coagulou-se em outra condição e nome: Tornou-se " Revendo a Psicologia", livro fundador das bases teóricas da Psicologia Arquetípica de James Hillman.

De lá pra cá, poucas coisas deixaram de ser rasuradas pelas letras provocativas do método imaginativo e estético de "Fazer Alma" de Hillman. Muitas das múltiplas dimensões da vida psíquica foram tocadas por suas palavras: Cidade, economia, arquitetura, animais, sonhos, transportes, educação, violência, justiça, mitos, homens, alquimia, crianças, literatura, paranóia, mulheres, guerra, terrorismo, cristianismo, política, amor, histeria, ecologia, Beleza e, principalmente, Jung e seus escritos.

A alma, para Hillman, tem um sentido de morte. Talvez essa quarentona que agora homenageamos tenha matado o Jung , ardoroso defendor do equilíbrio e do sentido compensador do inconsciente. E louvado o sentido profundamente “religioso”, dispensando qualquer moralidade que diversas psicologias insistem em valorizar (a maturidade, superação,crescimento, a consciência egóica...).

Porém, passados quarenta anos, é momento de parar e perguntar: Qual o legado da Psicologia Arquetípica para os dias atuais? Aos quarenta, quais suas perspectivas de vida, agora que seus filhos cresceram e tem vida própria?

Como dimensionar sua importância e consequências sobre os estudos junguianos?

Para alguns, a Psicologia Arquetípica é pensada como o mais criativo e consistente movimento pós-junguiano; para outros, se tornou uma pálida imagem - ingênua, nostálgica e obsoleta - do que um dia se propos a ser.

Nosso desejo neste evento é colocar à Psicologia Arquetípica no alvo de nossas discussões e questionamentos. Sem metáforas. Literalismo às avessas. Alma in extremis.

Queremos desafiar e provocar esta provocadora pueril com vara curta: Há lugar para a Psicologia Arquetípica em pleno século XXI?

Queremos saber: A quem destiná-la?

e, nos perguntamos: Terá a Psicologia Arquetípica desatinado? Ela desatinou?

Queremos colocar sob atrito e tensão as idéias que nos orientam há quatro décadas. Trata-se de tentar esvaziar qualquer adesão ingênua ao pensamento de Hillman, e sim "colocá-lo à prova" para, deste modo, melhor poder usufruí-lo e, quem sabe, continuar a afirmá-lo.



Afinal, o que a Alma quer da Psicologia Arquetípica?



Marcus Quintaes e Guilherme Scandiucci





Programação: Palestras, Mesas Redondas e Temas Livres ( A programação será divulgada em breve).
Datas: Setembro em São Paulo e Outubro no Rio de Janeiro
Organização: Himma:Estudos em Psicologia Imaginal (SP) E Rubicão: Travessias Junguianas (RJ)
Informações: grupohimma.blogspot.com / travessiadorubicao.blogspot.com

Um comentário:

  1. Belo texto, clocando corajosamente e com clareza a essência de um pensamento criativo e estimulante.

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