segunda-feira, 25 de maio de 2009

Travessias em terras chilenas


V Congreso Latinoamericano de Psicología Junguiana,
EROS Y PODER
O V Congresso latino Americano de Psicologia Junguiana ocorrerá este ano na cidade de Santiago, no Chile, de 4 a 8 de setembro. O tema a ser discutido é "Eros e Poder na prática clínica, na educação e na cultura".
Esta é uma oportunidade ímpar para desenvolver-se um intercâmbio intelectual entre junguianos que vivem e trabalham na América do Sul. Muito do saber teórico produzido em nosso continente ainda se faz desconhecido para a grande maioria dos próprios analistas que dividem essas fronteiras geográficas. Efeito direto desta condição é a posição unilateral em que nos encontramos em relação com o saber junguiano contemporâneo. Somos latino-americanos porém nosso saber tem gosto norte americano e europeu.Neste sentido, este encontro vem cumprir uma função de fundamental importância para a comunidade latino-americana de junguianos, já que cria a possibilidade de conhecermos as múltiplas formas de pensar Jung entre nossos "hermanos".
O Rubicão estará presente no congresso com a apresentação de dois trabalhos:


  • " Eros e Poder na psicologia das relações" - Henrique Pereira

  • " Palavras ou pílulas ou " Pára com isso, menino! : A Hiperatividade entre o código genético e o código do Ser" - Marcus Quintaes

I Congreso Punta del Este – Uruguay - 1998 Identidad Latinoamericana

II Congreso Río de Janeiro - Brasil - 2000 Identidad del Analista
III Congreso Salvador de Bahía – Brasil - 2003 Desafíos de la Práctica: En Pacientes y en el Continente
IV Congreso Punta del Este – Uruguay - 2006 Psicopatología – Psicoterapia - Neurociencia


domingo, 10 de maio de 2009

A potência da improvisação em dança


A psicóloga arquetípica Aline Fiamenghi terá de "atravessar um Rubicão" com local, data e horário marcados.
Aline defenderá sua dissertação de mestrado, A potência da improvisação em dança: uma abordagem arquetípica, dia 14 de maio, as 10h15, na PUC de São Paulo (4º andar - Setor de Pós-Graduação). O Rubicão não só indica, como também estará lá presente: Henrique Pereira será um dos examinadores da banca. Abaixo, um trecho do resumo da dissertação de Aline:


"(...) trata-se de um trabalho sobre o 'fazer-alma' que tem sua base na improvisação em dança. Na perspectiva da psicologia arquetípica, alma é uma possibilidade imginativa, a função de transformar eventos em experiências, a capacidade de reconher todas as realidades como primariamente simbólicas ou metafóricas. Não tentamos 'psicologizar' a experiência da dança, nem explicá-la, mas partimos dança por se algo que toca. Por ela vemos a possibilidade de metaforizar, pois entendemos que improvisar em dança é imaginar com corpo."

Um Festschrift para Andrew Samuels


No mundo acadêmico, um "Festschrift" é um livro homenageando um acadêmico respeitado. O termo, emprestado do alemão, poderia ser traduzido como uma "publicação de celebração".
Um Festschrift contém contribuições originais oferecidas ao homenageado por seus mais próximos colegas acadêmicos, geralmente incluindo seus passados estudantes como também seus colegas de profissão. Pode variar desde um volume pequeno até uma obra de vários volumes.
Não há um aniversario pré-determinado para um Festschrift, no entanto são publicados geralmente em um sexagésimo aniversario acadêmico. No caso de acadêmicos muito proeminentes, varios Festschrift podem ser preparados. Na Alemanha é uma honra ser designado para preparar tal coleção e ser selecionado por um acadêmico proeminente para editar um Festschrift pode simbolizar a passagem proverbial da tocha. Já que não existe uma tradução inglesa para tal livro, a palavra alemã Festschrift é amplamente utilizada internacionalmente. Os Festschrift são geralmente intitulados como "Ensaios em honra de ... " ou "Ensaios apresentados para ...".

É com grande satisfação que anunciamos o livro Sacral Revolutions – A Festschrift for Andrew Samuels a ser lançado pela Editora Routledge no fim deste ano.
Andrew Samuels é um dos mais influentes e proeminentes pensadores junguianos na contemporaneidade. Há várias décadas ocupa um lugar de destaque e referência dentro do campo teórico e clínico na comunidade junguiana. Autor de uma vasta obra (incluindo o clássico livro Jung e os pós-junguianos) — a maioria dos títulos traduzidos para o português —, Andrew Samuels também é um assíduo visitante às terras brasileiras participando ao longo das últimas duas décadas de vários congressos, seminários e palestras organizados por grupos junguianos oficiais e independentes.

É com grande orgulho que nós do Rubicão aceitamos o convite para contribuir com o livro, escrevendo um de seus capítulos (Post-Jungians and In Praise of Multiplicity). Assim, prestamos nossa homenagem a este importante pensador e amigo junguiano: Andrew Samuels.


Sacral Revolutions
A Festschrift for Andrew Samuels


With a hitherto unpublished Interview with C.G. Jung
Edited by Gottfried Heuer
Routledge
Taylor & Francis Group
London and New York

Table of Contents

A Plural Bouquet for a Birthday Celebration in Print. Introduction. Gottfried Heuer.
"I Hope that We Might Find a Way." A Birthday Interview with Carl Gustav Jung and
C.G. Jung in his 80th Year. Ingaret Giffard
The Sable Venus on the Middle Passage: Images of the Transatlantic
Slave Trade. Michael Vannoy Adams

Repetition and Repair: Commentary on the Film "Love and Diane"
by Jennifer Dworkin. Neil Altman

Women's Aggressive Energies, Agency and Psychological Change. Sue Austin

Faintclews and Indirections; Jung and Biography. Deirdre Bair

The Integrity of the Supervisor and the Sins of Psychotherapy
Supervision. John Beebe

Mutual Injury and Mutual Acknowledgement Jessica Benjamin

Violence in the Family: Challenges to the Fantasy of Shelter and
Protection. Paula Pantoja Boechat

The Dream in Psychosomatic Patients Walter Boechat

How They See Us Now. Joe Cambray

Night Terrors: A Titanic Experience Considered from Science, Art
and Psychology. Linda Carter

The Embodied Counter-Transference and Recycling the Mad Matter
of Symbolic Equivalence. Giles Clark

Physis - Archetype of Nature's Soul. Petruska Clarkson with
John Nuttall
Muriel Dimen Interviewed by Andrew Samuels. Muriel Dimen and
Andrew Samuels
Between Life and Death: Weaving the Remaining Spaces in the
Tapestry of Life. Moira Duckworth

What's Missing? Death and the Double. Christopher Hauke

On Transformation: The Art and the Science of Forgiveness. Birgit Heuer

The Gospel of Judas: An Emerging Potential for World Peace? Gottfried Heuer

Community, Communitas, and Group Process seminars in Analytic
Training. Jean Kirsch

Jung and the World of the Fathers. Thomas Kirsch

Citizenship and Subjectivity. Lynne Layton

Jung as a Modern Esotericist. Roderick Main

The Last Desire: A Clinical Experience of Working with a Dying
Man. Konoyu Nakamura

Unpicking. Susie Orbach

Extending Jungian Psychology. Working with Survivors of
Political Upheavals. Renos Papadopoulos

Critical Looks. The Psychodynamics of Body Hatred. Roszika Parker

Where is Paradise? The Mapping of a Myth. Fred Plaut

Post-Jungians and In Praise of Multiplicity. Marcus Quintaes and
Henrique Pereira

Andrew Samuels' Contributions to Analytical Psychology in Brazil. Denise Gimenez Ramos
Andrew and Me and the AHP. John Rowan

Writing after Andrew Samuels: Political Forms and Literary
Symbols in Shakespeare's Macbeth. Susan Rowland

Playing the Race Card: A Cultural Complex in Action. Thomas Singer

The Interface between Jung and Humanistic Psychology: a Tribute
to the Influence of Andrew Samuels. Christine Shearman and
Maria Gilbert
In Praise of Wild Analysis. Martin Stanton

City Men, Mobile Phones, and Initial Engagement in the
Therapeutic Process. Martin Stone

Extraversion, with Soul. David Tacey

The Actual Clash': Analytic Arguments and the Plural Psyche. Nick Totton

Politics and Hypocrisy. Liliana Liviano Wahba

A Thank-you Note to Andrew Samuels. Polly Young-Eisendrath

For Andrew Samuels on His 60th Birthday. Luigi Zoja





sexta-feira, 1 de maio de 2009

Rubicão, Política, Ética e Psique




EM TEMPOS de cinismo despudorado, privilégios escandalosos e bate-bocas destemperados em nosso cenário político, o Rubicão visa trazer as ideias de Jung para o centro de debate intelectual contemporâneo. Para Jung, é impossível dissociar sujeito e cultura, onde as manifestações ocorridas em um sempre se desdobrarão no outro. Assim, acreditamos que é hora tanto do indivíduo como da sociedade brasileira atravessar o Rubicão, isto é, fazer este movimento que inaugura um novo tempo nas relações entre indivíduo, ética e sociedade.

É necessário que cada um de nós possa ter a coragem ética de realizar a travessia do seu Rubicão particular. Nossa proposta é provocar um despertar tanto subjetivo quanto político nos pacientes-cidadãos e, nesse sentido, seguimos a orientação de Jung:

"Quem passa o Rubicão não pode voltar atrás"

Baseado na psicologia junguiana e pós-junguiana, consideramos que a psicoterapia localiza sintomas quase exclusivamente no paciente, negligenciando outras disfunções que se manifestam no mundo. O fato é que muitos sintomas patológicos experenciados pelos pacientes são patologias pertencentes ao “corpo político”, e não somente ao indivíduo. Quando se visa, simplesmente, ajudar ao paciente a “lidar com um problema”, sem ao menos questionar o mundo ou a sociedade em que este problema se localiza, isto é, sem considerar que a própria sociedade pode também ser patológica, logo contribuindo para a patologia do indivíduo, a psicologia se equivoca de sua função e falha em seus objetivos. Alguns psicólogos falam de cura no sentido de “totalidade" , mas será esta alcançável para o indivíduo separado do “corpo político” do qual faz parte?

Em nossa visão, nas psicoterapias, as emoções que nos relacionam com o mundo são forçosamente internalizadas. A raiva legítima despertada pelo que ocorre no mundo (o desemprego, a fome, recessão, pobreza, violência) é tratada , simplesmente, como se fosse uma manifestação de um estado interior. Nós tratamos a raiva como uma condição interna, quando, na verdade, ela se inicia como uma indignação. A terapia promove, então, a introversão das emoções. Ao recolher a emoção e ao trabalhá-la internamente, você está se omitindo psicologicamente de trabalhar sobre aquilo que o está incomodando: seja a violência, a pobreza ou o fracasso político

Uma das formas de atravessar o Rubicão é começar a considerar que nossos sintomas e nossas enfermidades, talvez, não se originem apenas nos nossos romances familiares localizados em nossas infâncias, mas que eles também podem se dar em virtude de nossas relações com nossos empregos, com o sistema educacional que fomos submetidos, ao sistema político-financeiro e à corrupção estatal em que vivemos, ao bombardeio incessante da mídia sobre nós, a desenfreada violência que nos acomete na nossa cidade, a desilusão com nossos governantes, e muito mais.

A psicoterapia terá, então, como uma de suas funções provocar a existência do que se denominou “um cidadão político psicológico”, ou seja, aquele que deslocaria sua atenção voltada, anteriormente, apenas para o si-mesmo, para alimentar o retorno da alma ao mundo. A psicoterapia se engajaria tanto em falar sobre coisas e lugares que afetam nossos humores e reações, quanto em outras pessoas. Caberia também a psicoterapia , refletir sobre assuntos de julgamento estético, que é de importância fundamental no papel do cidadão psicológico. Ao senso estético , adiciona-se o senso político pois existe uma função política para a psicoterapia que consiste em trabalhar a agitação patológica existente no corpo político da sociedade e do mundo. Isto significa, concretamente, em aumentar a consciência sobre o que está acontecendo ao nosso redor e ao não encorajamento à adaptação social ao que está estabelecido. Não é apenas em nós ou em nossas famílias que existem patologias, a civilização como um todo também é patológica e a tarefa "revolucionária" e terapêutica não é dizer para o invidivíduo como lutar ou onde lutar, mas despertá-lo para a conscientização da patologia existente no mundo exterior.

Ao nos perguntarmos quais são os sintomas contemporâneos de nosso tempo, teremos de olhar à nossa volta e percebê-los no meio ambiente, na política, no sistema financeiro, na educação, na medicina, nos negócios, na arquitetura, nas cidades e em cada múltiplo aspecto de nossa cultura. A psicoterapia tem se concentrado em localizar estes sintomas somente no interior das pessoas e não tem reconhecido estes mesmos sintomas como manifestações do exterior na alma do mundo.
Poderíamos dizer que a prática psicológica deve declarar afirmativamente uma preocupação intensa com a alma do mundo pode e deve, ainda, existir lado a lado com uma preocupação com a alma do indivíduo. Fieis à herança alquímica e neoplatônica, devemos nos lembrar de Plotino que disse que “a alma do mundo e a alma individual são feitas da mesma coisa”. E de Sendivogius, o alquimista, ao dizer que “a maior parte da alma se encontra fora do corpo”.